um texto parcialmente (ou totalmente) patriota ― dependendo do seu ponto de vista.
uma visão pessoal e um pouco polêmica sobre o meu amor por ser latina e meu preconceito com os famosos baba-ovos-estadunidenses.
“O americano dorme pensando nos Estados Unidos, acorda pensando nos Estados Unidos e só pensa nos Estados Unidos.” ― presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
eu poderia começar criticando a escolha de palavras do presidente em seu discurso por chamar os carinhas do outro lado de “americanos” ― pois bem, também sou americana, então ele podia ter sido mais específico ―, mas parando para pensar de outro ângulo, ele escolheu um belo uso de palavras, já que não me é surpresa nenhuma escutar brasileiros glorificando a cultura estadunidense, o famoso “sonho americano”.
veja bem, meu intuito não é tornar esse texto uma espécie de apelação política. eu poderia muito bem ter colocado uma frase do ex-presidente (inelegível HAHAHA) caso tivesse concordado com algo que saiu daquela boca miserável. meu contexto principal, é um desabafo sincero e um pouco polêmico ― polêmico porque sempre pode ter alguém mais pra lá do que pra cá ― direcionado a todo aquele ser humaninho com uma queda pelos branquelos de olhos azuis.
tá bom, agora sendo um pouco menos extremista e tirando o personagem irritado que acabei de ser escrevendo aquilo ali em cima, vamos esquecer que meu ídolo é a taylor swift e tenho um crush supremo naquele ator drew starkey (não achem que eu não me detesto por isso)
amo ser latina, amo meu brasil, logicamente seguindo ideologias patriotas racionais e não nacionalistas. reconheço as dificuldades do povo brasileiro, do nosso país, da baderna que está se tornando a nossa política e o nosso congresso (existe prova maior que terem convidado uma influenciadora para a CPI?). sem dúvidas, nos últimos anos anda sendo muito complicado ser uma defensora da nossa bandeira. por sinal, não tem nem o que defender. você também pode ser só alguém tranquilo, bebendo uma coca geladinha enquanto observa toda a palhaçada acontecendo na televisão.
tudo bem, tudo bem… você não é obrigado a gostar do brasil, é sério. mas você realmente preferiria sair daqui para morar nos estados unidos? NOS ESTADOS UNIDOS?! com tantos lugares maravilhosos, com qualidade de vida, segurança, saúde decente. sei lá, a noruega, holanda, canadá ou a suíça!!!!
posso citar uma lista enorme de motivos pelos quais os eua não são tão melhores quanto o brasil. pra começar, hoje em dia aquelas terras se tornaram um campo de concentração para imigrantes. não sei vocês, mas eu nunca pisaria em um lugar aonde não sou bem-vinda. em contrapartida, todo mundo é mais que bem recebido em nosso país. lembro de um vídeo que vi no tiktok de uma garota contando uma experiência que teve com seu namorado estadunidense; uma mulher estava passando mal na rua e várias pessoas ao redor se juntaram para ajudar, logo a ambulância chegou e levou a senhora até o hospital. o namorado dela, diante da situação, perguntou:
― quanto custa o serviço de emergência aqui?
― como assim? ligar para ambulância aqui é de graça.
― caramba, os brasileiros são muito legais, sabia? lá na minha cidade é muito caro chamar ambulância.
eu fiquei simplesmente chocada quando vi aquele vídeo. tive que pesquisar se aquela informação era mesmo verídica. sabiam que para chamar uma ambulância lá pode custar de 500 a 5.000 dólares?! ah, por sinal, um ente querido seu no hospital acabou de morrer? dane-se, pegue sua conta de mais de 120 mil dólares. afinal, não existe saúde pública lá ― não vou entrar profundamente no quesito SUS, porque em si, ele é cheio de dificuldades, mas ainda assim, é uma opção que existe. licença-maternidade? o que é isso? licença maternidade não existe. o aceitável é um afastamento de 0 a 12 semanas sem salário. férias não são considerados um direito básico aos trabalhadores, com muita sorte, um funcionário consegue até 10 dias livres ao ano (não remunerados). por sinal, tá dodói? tá gripadinho? ninguém se importa, o famoso atestado de 7 dias não existe lá. você vai ter que levantar todo fodido e ir trabalhar.
duvido que exista um filme de produção estadunidense tão real que mostre como é a realidade de cidades como los angeles ou nova york (não, taylor swift, new york didn't wait for me). basta pesquisar no noticiário, todas essas cidades grandes e romantizadas em filmes e séries, têm altas taxas de moradores de ruas. famílias inteiras vivendo em cabanas ao lado de estradas porque não são capazes de pagar aluguel.
não preciso nem começar a falar sobre o preconceito velado disfarçado de ignorância. não é a primeira vez que escuto algum conhecido que tenha ido aos eua, voltar e comentar que, o apelido carinhoso dado pelos colegas estadunidenses é “ei, latina. olha lá, latina. tudo bem, latina?”. tipo assim, eu tenho um nome.
não preciso nem falar da culinária, né? a comida típica mais saudável deles é o famoso churrasco com molho barbecue. não esqueçam dos hambúrgueres, hot-dogs, macarrões com queijo e milhões de opções de comida enlatada. aqui em casa, costumo chamar isso de comida de plástico.
eu poderia falar mais e mais sem cansar, mas não quero lotar o e-mail de vocês. e de forma alguma estou questionando pessoas que viajam para os eua. por ao contrário, vai lá, se diverte, conhece e julga com propriedade. afinal, se quiser conhecer o mundo inteiro, não vai conseguir escapar dos estados unidos. eu mesma tenho interesse por conhecer algumas cidades específicas de lá como o colorado ou vermont (sou mais adepta à natureza que prédios gigantescos).
quando falo sobre o patriotismo estadunidense extremo, não estou dizendo que eles estão errados. na verdade, os admiro por isso. assim como também deveríamos propagar a ideia de “sonho brasileiro”, batalhar para um país honesto, amar o que temos. sinceramente, o que eu mais DETESTO no mundo é a tal síndrome de vira-lata, ou também, se preferir, o complexo de inferioridade cultural. sinceramente, vejo tantos países amando e glorificando o que têm, tendo orgulho de sua nacionalidade, de sua cultura, de sua gastronomia.
há muito o que fazer aqui, muito o que consertar, muito amarelo e azul pra viver. e espero ser alguém que faça parte desse progresso um dia. alguém que vista a camiseta de ordem e progresso com orgulho, que olhe pra trás e pense “eita, a gente já viveu tudo isso?”. você deixaria mesmo os barzinhos abertos de madrugada? nosso açaí? nosso humor incomparável? nossos camelôs gritando DOIS POR QUINZE? nosso “deus me livre mas quem me dera”? nosso cazuza, gal costa, caetano veloso, chitãozinho e xororó, anitta, arthur aguiar e o fora da casinha? ou a beleza da expressão latino-americano. isso é só nosso. é o nosso jeitinho brasileiro. alguém mais tem esse molho?
até nossos xingamentos são melhores. não sei vocês, mas nenhum “fuck you” seria tão suficiente quanto um “vai pra puta que pariu e a casa do caralho”.
“Meu caminho é novo, mas meu povo não
Meu coração de fogo vem do coração do meu país
Meu caminho é novo, mas meu povo não
O norte é a minha seta, o meu eixo, a minha raiz
E quando eu canto cor
E quando eu grito cor
Quando eu espalho cor
Eu conto a minha história” ― anavitória.
novamente, ninguém é obrigado a se condenar a passar o resto da vida no lugar aonde nasceu. esse mundo é livre, você tem a autonomia de ir para aonde quiser. inclusive, sair daqui e nunca mais voltar pelos seus motivos. mas por favor, para e reflete um pouquinho. tenha mais dignidade. o outro lado está ocupado demais pensando só neles e em ninguém mais.
e se você for algum conhecido meu, pelo amor de deus, não me chega adorando os estadunidenses não. eu não vou conseguir evitar o meu revirar de olhos.
enfim, espero não ter sido muito agressiva aqui e que eu não tenha assustado vocês. por favor, qualquer um que não concorde comigo, estou disposta a debater no privado com um suquinho de laranja (brincadeirinha).
― com muito amor, sua brasiliana.
Sinto que você falou tanto do que eu venho deixando entalado na garganta há um tempo, até estou mais leve depois da leitura KKKKKKK.
Enfim, embarcando no teu raciocínio, que é super objetivo e sem achismos, lembrei muito da minha escola. Infelizmente, principalmente dos meus colegas. Odeio o quanto eles me taxam de: "senhora" "espírito de velha" "chata" e entre tantos outros, por simplesmente saber valorizar nossa cultura e não viver à mercê de uma realidade que, apesar de ser próxima da nossa, é diferente. Muita gente dentro da sala de aula compara as realidades de países completamente diferentes, sobretudo a questão cultural, tão desvalorizada no nosso país.
Inclusive acho seu texto de extrema importância, porque é um assunto relevante e que deve ser discutido. Fugir de assuntos polêmicos só nos fazem enxergar que precisam ser debatidos justamente por serem polêmicos, incômodos. E quanto mais desconfortável, mais deve ser questionado.
Amei!! Nosso país tem suas dificuldades, mas não gostaria de ter nascido em outro lugar. Amo ser brasileira 🤍