quero sair da casa da mamãe.
sobre a necessidade urgente de deixar nosso berço de nascença.
certa vez, eu e um amigo estávamos conversando sobre diversos assuntos da vida, enquanto, acreditem se quiser, eu estava escrevendo um desses posts aqui. conversa vinha e conversa vai, acabamos caindo no assunto “família”. sentimentos como “amor”, “reconforto” e “segurança” rapidamente tomam espaço logo após esse tópico. (astrologicamente falando, ser canceriana explicaria muito esse fator; psicologicamente explicando, estar em família é como voltar para uma caverninha quente e confortável, inabalável ao mundo exterior)
imaginem o meu choque quando esse tal amigo disse a seguinte frase: “eu nunca fui muito apegado à minha família”. pra mim, aquela frase teve o mesmo efeito que descobrir que o papai noel não existia aos 7 anos de idade. foi como quebrar uma barreira cheia de crenças que só eu acreditava. como assim, a família não é a única coisa que importa pra ele? como assim ele não se importa de estar longe dos pais? como assim a família não é o chão, o céu e o espelho dele?
admito, aquilo me fez pensar por um bom tempo. me fez pensar em como o amor que sinto pela minha mãe é ao mesmo tempo puro, mas principalmente, sufocante. não só por como ela me prende, mas como eu me prendo a partir do que sinto. isso fica mais que óbvio quando penso na possibilidade de morar em outro país, de os anos passarem e eu não estar próxima para presenciar a pele da minha mãe enrugando, seus cabelos ficando brancos, suas bochechas fundas. ou meu irmão ficando maior que eu, tendo a primeira namoradinha, se tornando um homem. são esses pontos que me prendem, e me matam com a possibilidade de não acompanhar.
mas com o passar do tempo, o tal elefante começou a incomodar a minha sala mental. de uma perspectiva racional e simples, o contexto “familiar” se torna um tanto abalado quando um dos elementos que forma essa força impotente ameaça ter galhos próprios. ter 19 (ou 21, 25, 26…) anos e, consequentemente, pensamentos fortes e ideias autônomas, pode ser um fator um pouco desagradável.
é tudo muito bonito quando todos vivem na mesma sincronia. quando você faz o que sua mãe quer ou o que seu pai quer, do jeitinho que é mandado. mas… eita, você voltou para casa um pouco mais tarde do que deveria. seu boletim não veio com notas perfeitas. você está namorando alguém que seus pais não consideram adequado. você quer trocar de curso na faculdade. em algum momento, você não será a companheira mais perfeita para se viver. e então você se encontra no quarto, chorando com lágrimas de raiva silenciosa, desejando mais que tudo sair dali.
pois é, esse é o lado ruim de ser um ser humano pensante que deseja mais que tudo sonhos próprios. às vezes, fico pensando em como seria mais fácil se eu apenas fosse exatamente o que minha mãe quer. (ou o que seu pai quer). e nós sabemos que eles nos amam, que cada coisa que eles fazem ou a justificativa para as atitudes que eles tomam, são embasadas por amor, cuidado e experiências passadas. mas nós não somos os nossos pais. não somos os fracassos deles. não vivemos mais no mesmo mundo.
eu sei que nossos pais não querem que nos machuquemos, mas será que eles não entendem que, quanto mais nos privam dessa possibilidade, mais queremos nos arriscar porque o proibido é um grande atiçador em nossas vísceras? porque a chance de cair, se perder, arriscar tudo, é mais atraente quando há alguém nos privando de oportunidade. é nossa vida, deveríamos ter a liberdade de escolher o que desejamos fazer com ela. não é porque você não será médico como seus pais querem que você será um fracassado. não é porque você voltou para casa um pouco tarde, que você está perdendo o rumo da sua vida. não é porque somos filhos deles, que somos eles.
a grande e cruel verdade é que todos os pais têm um pouco de traços narcisistas. porque pais, em geral, não têm filhos com o intuito de criá-los para o mundo. mas sim, criá-los para eles. e quando ousamos sair de dentro do ninho que nos foi imposto, quando mostramos os primeiros sinais de que não seguiremos com aquele roteiro prontamente escrito para nós, como eles sempre sonharam e idealizaram, soamos como uma espécie de objetivo fracassado.
“eu sempre quis que minha filha fosse bailarina”
“eu sempre quis que você fosse arquiteto”
eu sempre quis isso, e quis aquilo, e quis isso-aquilo-isso-aquilo e porque eu sei o que é melhor para você, ponto final. mas no fim das contas, será que alguém sabe mesmo de alguma coisa? a verdade é que a vida é um grande risco. precisamos constantemente ter coragem, e nem sempre nossos pais estarão ao nosso lado para guiar os nossos passos. em algum momento, vai ser só você e você. só o silêncio e a realidade que te foi imposta. e seus pais estarão felizes, realizados. mas você vai estar?
nós dizemos que a casa é “nossa”, mas será mesmo que é? será que a casa também é minha quando me sinto presa nela? quando não posso dizer o que penso, fazer o que quero ou me sentir do jeito que me sinto? no fim, a casa não é de verdade nossa. a casa é deles, e nós somos apenas convidados vivendo “sob o teto que eles pagam”.
e cá entre nós, alguma hora todo mundo quer o seu cantinho pra ser você mesmo. pra convidar seus amigos, pra arrumar a casa do jeitinho que quiser (ou não, porque ter liberdade significa poder decidir deixar a louça suja para o dia seguinte), para andar de calcinha pelos corredores, ouvir música ruim e dormir a hora que quiser. sair de casa e não se preocupar com o horário. ser você mesmo.
a verdade, é que me dói ter que escolher entre fazer você feliz e sacrificar a mim mesma, ou sacrificar você e me fazer feliz.
mãe, pai,
eu amo vocês.
mas o amor de vocês me sufoca.
pessoal, chegamos ao fim de mais um texto! espero que tenham gostado da forma como abordei o assunto, escrevi esse texto com palavras bem entaladas dentro de mim. obrigada por lerem, amo muito vocês!!!
abaixo vou deixar um texto maravilhoso que me motivou a escrever esse post, além do último capítulo do meu livro (LEMBRANDO QUE TODA QUINTA E DOMINGO SAI NOVOS, HEIN!!!)
― com muito amo, heleninha!
o parágrafo sobre viver em sicronia me pegou, dito isso vou me jogar (na vida
As vezes ser “filho” é de grande responsabilidade, uma expectativa que unanimemente é posta sobre nós, e o impacto que causamos caso não hajamos como determinam, é sufocante.