papo calcinha!!! sobre a bendita primeira vez e tantas outras coisas.
somos todos um poço ambulante de hormônios cheios de tesão. uma conversa de garota para garota sem qualquer embasamento cientificamente ginecológico.
01. a famosa siririca (em todos os seus contextos)
certa vez, perguntei à minha mãe o que ela faria se encontrasse um vibrador no meu quarto. eu esperava um sermão cheio de preconceitos antiquados e típicos de alguém que nasceu em mil novecentos e muitos anos… eu, com minha mente fechada e certeira em formular frases teoricamente previsíveis, levei um tapão na cara ao escutar um “ah, que ótimo, significa que você está se conhecendo”. depois daquela conversa, fiquei pensando em por que ainda não tinha comprado um vibrador pra mim? quer dizer, por que temos que ter receio de falar de vibradores ou masturbação?
me baseio em muitas das minhas amigas que têm vergonha de falar sobre isso. a verdade é que estamos em 2025 e, ainda assim, existem tabus que insistem em permanecer mesmo após tantas lutas contra o conservadorismo. por que mulheres deveriam ter vergonha de falar sobre prazer individual quando homens, desde pequenos, normalizam a pornografia e conversas sobre punheta em grupos de amigos? inclusive, em frente a outras mulheres. já fiz parte de um grupo que continha ambos os sexos, então tenho total autonomia ao que estou apontando aqui.
decidi começar o texto desse jeito porque, de um jeito simples e básico, o sexo deve ser um prazer duplo em que ambas as partes estejam curtindo igualmente. você quer agradar ao seu parceiro, claro. do mesmo jeito que você quer ser agradada. mas o fato é: como você alcançará o prazer se nem sabe do que gosta? pior, você cresceu em uma cultura que endemoniza o prazer feminino. que a faz ter receio do seu próprio órgão genital e que está ali por uma razão!
vocês sabiam que o vibrador, inicialmente, foi criado dentro de contextos médicos? em uma época em que a histeria em mulheres era considerada patológica, ligada diretamente ao ventre e sua negligência de atenção, um projeto fora baseado em uma teoria de platão, em que o mesmo apontava que o útero era um animal dentro de um animal, e que de tempos em tempos perdia o controle e precisava ser acalmado. a resolução científica do problema se baseava em uma massagem na vulva, que ocasionava lubrificantes naturais, uma espécie de febre e espasmos no corpo feminino, nomeado cientificamente como “paroxismo histérico”. desenhado em 1869 por george taylor, o primeiro vibrador elétrico começava a ser planejado. diante disso, uma empresa americana chamada hamilton beach financiou o primeiro vibrador.
médicos de todos os eua tornaram-se adeptos ao uso de vibradores em suas pacientes. o que eles não esperavam era que a prática se tornaria mais do que famosa em todo o país. mulheres buscavam constantemente aos hospitais, causando hiperlotações, exaurindo médicos e enfermeiros. a partir da febre colossal imparável, foram inventados os primeiros vibradores independentes. fabricados, comercializados, vendidos.
por algum tempo, os vibradores femininos se tornaram naturalizados perante à sociedade. até serem usados em filmes pornôs e rapidamente associados a profanidade, perversão, blasfêmia.
hoje em dia com certeza nós evoluímos um pouquinho, mas você ainda fica vermelha quando fala sobre sexo ou siririca. antes de tentar explorar sua vida sexual com alguém, se conhece um pouco mais! descobre o que você gosta, seja sua melhor amiga. encontra seu ponto mais sensível. o jeito que seu corpo mais gosta e menos gosta de ser tocado, como gosta de ser tocado. para de ter medo da sua vagina, mulher! tá com medo de alguma coisa lá dentro de morder?
“ah, mas helena, como eu posso fazer isso?”, não começa indo lá e botando pra quebrar não, porque daí você só vai se frustrar e não tirar nenhum proveito depois de muito tempo tentando. vai com calma, nossa vagina é muito mais complexa e delicada. toque nos seios, no estômago, brinque com suas coxas. coloca uma música sensual de fundo se quiser. escuta umas histórias eróticas (ei, aqui não é lugar pra meninas julgadoras!) todo mundo tem sua técnica, o seu jeitinho. uma hora, você vai descobrir o seu.
02. ter um namorado, não significa se sentir confortável com ele.
antes de ter minha primeira vez, admito que fiquei bastante preocupada com como seria minha experiência. escutei muitos relatos envolvendo muita dor e sangue por toda parte. a última coisa que eu queria na minha primeira vez era ser uma maria sangrenta chorona embaixo do meu parceiro. eu tinha uma amiga que constantemente falava o quanto tinha medo de pênis. a piada pegou tão bem naquela hora que comecei a filtrar aquela ideia na minha cabeça. pra mim, era mais fácil fazer piada com o tamanho do meu receio em ver um pau na minha frente do que admitir que meu medo real era de fazer sexo ― e de passar vergonha na frente da pessoa com quem eu estaria praticando o ato.
foi no terceiro ano do ensino médio que minhas ideias deturpadas sobre sexo começaram a mudar. eu tive duas amigas que me compartilharam a mesma experiência. quando perguntei a elas como foi, escutar um “não doeu nada” soou como um universo totalmente novo pra mim. do outro lado, uma colega que conhecia o namoradinho havia uns dois anos retratou a primeira vez como “ardida e vergonhosa”, algo que ela nunca mais queria experimentar. logo de cara, duas situações ― que depois se provaram reais na minha vida ― criaram forma na minha cabeça: meninas que transavam com caras depois de poucos meses de namoro, e meninas que transavam com namorados de longa data (um ou dois anos).
me perguntei por um bom tempo o que teria diferenciado as duas experiências. por que muitas das minhas amigas haviam sentido uma dor extrema, enquanto outras declararam o sexo como uma experiência confortável e inovadora? vou tentar explicar a situação do meu ponto de vista (novamente, comprovado a partir do que já ouvi e do que EU passei).
apelidarei essas amigas de clarisse e juliana (nomes fictícios).
clarisse: totalmente virgem + primeiro namorado aos 16 anos de idade + relação social antes da carnal (3 meses) = dor brutal na primeira vez, clarisse alegou sentir um grande rasgamento por ser muito “apertada”.
juliana: totalmente virgem + experiente na siririca (e vibradores bullet) + primeiro namorado aos 16 anos + relação social antes da carnal (1 ano e alguns meses) = juliana afirma ter tido uma primeira vez nada dolorosa, 0 desconfortável e quase perfeita na primeira vez. ps: ela sorria bastante enquanto falava isso.
ou seja, juntando não só esses casos, mas outros relatos que escutei, podemos basear o conforto ou desconforto na primeira vez de uma garota em uma série de fatores. vale lembrar que cada menina possui seu corpo, e cada menino também. o que inclui tamanho, espaço, etc.
agora, antes de chegarmos a uma conclusão, venho ao relato da MINHA experiência.
03. relato pessoal.
eu e meu namorado estamos juntos há 1 ano e alguns meses, e tive minha primeira vez com ele quando completamos uns dez ou onze meses (por aí). a questão é que, nesse meio tempo, coisas aconteceram. fui descobrindo o meu lado sexual de pouco em pouco, sem pressa. meu namorado nunca me pressionou a nada, nem para fazer coisas comigo ou para que eu fizesse coisas com ele. isso foi um desejo que surgiu naturalmente, uma coisa que cresceu em mim em um dia aleatório e me fez pensar: “ah, ele vai ver só o que eu vou fazer quando a gente ficar sozinho”. não vou mentir, a ideia inteira de sexo, boquete e outras coisas é meio cabulosa sim. não é uma coisa muito bonita de se ver, ouvir, etc. sexo, na realidade, se visto de fora, é bem engraçado. sexo de verdade é uma bagunça. os seios balançam, faz barulho, a pele soa, a gente se sente esquisito às vezes em alguns movimentos. como diz a rita lee, “sexo é uma guerra de epilépticos”. e toda essa imagem grotesca e assustadora se instalou em mim por muito tempo, até então eu me encontrar no meio da coisa toda e pensar: “cara, sexo pode ser algo muito bonito”. quando dois corpos estão se curtindo, tem toda aquela conexão de olhares, respirações pesadas e frases que a gente normalmente teria vergonha de dizer em voz alta, em momentos menos íntimos.
de uma forma mais clara, nos primeiros três meses, nós avançamos devagar. descobri que o beijo já pode sim ser um tipo de sexo. aquele tipo de beijo que já te deixa úmida sem mal ser tocada. depois de um tempo, me senti confortável para que meu namorado chegasse a outra parte. foi quando percebi que era bem legal ser adorada na parte de cima. mais meses depois, deixei ser aventurada em outras áreas mais íntimas. para aqueles que não têm vergonha de nada, vou falar de um jeito bem exposto aqui: as dedadas foram de grande ajuda para minha primeira vez. são maravilhosas do jeito certo e no momento certo. é importante notar que, na primeira vez, talvez não seja tão interessante ali. pense, é a primeira vez que sua vagina está sentindo outro corpo adentrando lá dentro (um dedo que não é seu). você pode estar tensa, talvez nem tão lubrificada, e pode até doer um pouquinho — claro, o mano ou a mana tem que ir devagar também, não é para ir enfiando como se sua vida dependesse disso.
mais importante de tudo: não se sinta pressionada para continuar o que não quer. se sentir que o que está fazendo é o suficiente, então é o suficiente. sem papo, sem vergonha, sem “mas” ou porém ou a puta que pariu inteira. é o seu corpo, e apenas você sabe até aonde quer ir por hoje.
muitos e muitos meses depois, após fases e etapas devidamente exploradas e apreciadas, chegou enfim, o dia que aconteceu minha primeira vez. se lembra das dedadas? mais do que me prepararam para o que viria à seguir. a surpresa não tão surpresa assim? eu não senti nenhuma dor na minha primeira vez. nenhuma vez, em nenhum momento. e o motivo tinha ficado mais do que claro para mim um tempo depois.
quando aconteceu, meu corpo estava preparado. minha mente estava preparada. e esse era o ponto que eu queria chegar com o texto. estar “preparada” não é apenas o sentimento ilusório baseado por uma tesão reprimida. é como seu corpo, de um jeito técnico e real, vai lidar com o sexo pela primeira vez. é sobre você entender que, o sexo na verdade não precisa ser um imenso jogo cheio de enigmas a ser explorado. não é difícil, não é um bicho de sete cabeças. só necessita de calma e apreço. o sexo pode ser muito legal. maravilhoso, alguns diriam. além de saudável, claro.
é, você sabia? sexo é saudável! promove benefícios ao corpo como redução de estresse, proteção cardiovascular, fortalecimento de músculos, perda de calorias e, além disso, uma ótima noite de sono.
04. algumas questões técnicas.
eu sei que para muitas das pessoas que estão lendo esse texto, sexo pode ser visto como um assunto proibido a sete chaves dentro de casa. dito isso, não tenha medo de perguntar em locais seguros. é importante se manter informado, tirar suas dúvidas e tornar claro esse assunto que para tanta gente é uma questão mal resolvida.
pergunte a uma amiga, a um adulto de confiança, a tia legal da família ou a fóruns na internet. assista a vídeos de profissionais no youtube, vá a um ginecologista (antes e após ter sua primeira vez).
eu sei que alguns casos assustam. ou quer dizer que ninguém saiu traumatizado com o caso da garota que morreu após uma relação sexual com um jogador de futebol? porque eu saí, e muito! é importante que, antes da sua primeira vez, sinta-se segura sobre o que está fazendo, e mais importante, o que acontece depois. ninguém quer ter crises de ansiedade toda vez que transa por achar que está grávida. então, claro, não querendo dar uma de mãe irritante, mas como uma amiga que está aqui para aconselhar: USE PROTEÇÃO! busque um meio anticoncepcional (que não seja o famoso coito interrompido) que te deixe mais segura e tranquila.
lembrando que a camisinha não é apenas importante para evitar bebês, mas para te manter longe de alguma IST (infecções sexualmente transmissíveis).
e chegamos ao fim deste post, meus queridos! espero que tenham gostado desse testemunho, e que de alguma forma, tenha aberto a mente de vocês. caso precisem desabafar ou mesmo compartilhar alguma experiência que tiveram, estarei aqui para escutar o que quiserem :)
― com amor, heleninha. (PS: deixarei rita lee no final porque não tem jeito melhor de finalizar essa obra sem ela)
mulher que texto foi esse, juro helena você arrasa, senti como se tivesse conversando com uma amiga super íntima.
sua escrita conforta e acolhe. obrigada por compartilhar e consequente normalizar uma coisa tão íntima.
eu adorei esse texto !! ele me apareceu depois da minha primeira vez com meu namorado a algumas semanas atrás. não foi a melhor experiencia do mundo, eu ja fiz sozinha algumas vezes, mas faz muito tempo e só fiquei na parte de fora, nunca experimentei o dedo la, e antes da nossa primeira vez, eu e meu namorado só haviamos feito oral. a primeira vez foi tão dolorosa que eu pedi pra parar bem cedo, mas foi uma experiencia interessante, só bem dolorida. o engraçado, é que eu só explorei essa parte mais sexual da vida agora com um namorado, antes eu não tinha interesse em experimentar algumas coisas, nunca tive essa curiosidade toda pra ter sexo, tanto que eu até prefira ficar ali só no beijo e no oral pra falar a verdade KKKKKKKKK