O JARDIM DA PROPRIEDADE ERA enorme, maior do que ela pensava. Caminhos rodeados por ciprestes italianos gigantes, trilhas de cascalho, servos colhendo frutos de jabuticabeiras, chafarizes extravagantes com estátuas de anjos, árvores tristes com seus galhos secos e sem folhas. O sol vespertino não incomodava seu rosto. Nem estava quente, mas Anne insistiu em protegê-la com um minucioso guarda-sol florido.
Após todos os seus compromissos diários, o que incluía aulas de diplomacia e cultura com um de seus tutores particulares, Adelaide esperava que um passeio pudesse clarear sua mente. “Você só tem mais quatro meses para terminar um livro novo”. As palavras de sua mãe a perseguiam. Nos últimos tempos, ela não se sentia satisfeita com sua escrita. Era como não aguentar a si mesma. Tudo o que andava escrevendo parecia igual, monótono. Não que ela não lidasse bem com o “melodrama”, como Miguel Vallentuna havia falado ― pelo contrário, a herdeira sempre se dera bem com aquele estilo. E ela estaria lidando perfeitamente com a situação alguns anos atrás. Entretanto, após tantos livros de finais trágicos e diálogos deprimentes, chegou uma hora que Adelaide não sabia mais o que estava tentando superar com aquilo.
No início, funcionava. Ela conseguia direcionar todo seu rancor e consternação em máquinas de escrever. Quando percebeu, aos dezessete anos, já havia escrito três livros. O mundo dela havia se tornado tragicamente barulhento, o que ela podia fazer, era dividir um pouco daquele barulho com as outras pessoas ― Pessoas que liam seus livros e a admiravam. Quer dizer, não admiravam ela…
Mas algo dentro dela havia parado, travado. Quando ficava de frente para uma máquina de escrever, nada saía. Ela obrigava seus dedos a trabalharem e nada saía com vida. Seu coração murcho não falava mais com ela, não queria mais ser exposto. Quatro meses.
Adelaide fechou os olhos enquanto caminhava, sentindo o ar puro. A pessoa que era no presente poderia adorar a solidão, mas a pessoa que era no passado, amava árvores. Aquilo ninguém arrancaria dela. Talvez ela pudesse ser botânica em outra vida, passar toda sua existência ao redor de plantas e flores. Elas eram caladas, não julgavam ninguém.
― É uma bela tarde para tomar chá, alteza ― comentou Anne, docemente.
― Não estou com fome, obrigada.
Elas continuaram a andar mais um pouco e chegaram numa região mais aberta. Era como uma clareira, protegida por um cercado de madeira branco. Havia um estábulo ao longe, rodeado por trigo alto e dourado. Adelaide aproximou-se, curiosa. O cheiro de terra e selvageria animal invadiu seu olfato antes mesmo de entrar por completo no lugar. Tinha muitos cavalos ali, de cores variadas. Mas entre todos os que estavam ali, um deles chamou sua atenção. Ele estava num bloco final, relinchando. Parecia revoltado.
Um cavalariço usando chapéu de palha tentava acalmá-lo. Adelaide chegou mais perto. Quando o homem notou sua presença, rapidamente conduziu uma reverência exagerada.
― Alteza.
― Qual é o problema com ele? ― indagou Adelaide.
― Ele é assim mesmo, desde pequeno. Não se mistura com os outros cavalos e já nocauteou três dos nossos tratadores.
Adelaide observou o animal com mais afinco. A criatura rebelde remetia às roupas dela. Todo preto, de pelos brilhantes e crinas visivelmente macias. Os olhos eram como dois limbos profundos e sombrios. A forma como o animal se portava, não parecendo ceder aos requintes do pequeno espaço no qual se encontrava… O jeito determinado que insistia nos relinchares pesados e as movimentações imprudentes de cabeça… Tudo nele a atraía. Adelaide sentiu inveja dele, ao mesmo tempo que se identificou deprimentemente. Deveria ser bom extravasar em tamanha raiva, não engolindo todas as cápsulas de rancor até morrer intoxicado; se entregar à frustração de braços abertos, a abraçando como dois irmãos que se encontraram depois de uma guerra.
Entretanto… o cavalo ainda estava preso dentro daquelas quatro paredes claustrofóbicas, uma corda em volta de sua cela.
Adelaide o queria.
― Qual o nome dele? ― ela perguntou.
― Abaddon.
― O que significa? ― indagou Anne.
― Significa “destruidor”. É um demônio da Bíblia hebraica. A mãe morreu quando deu à luz. Ninguém monta nele, não temos coragem.
Abaddon olhou de volta para ela, parando por um instante toda a agitação. Ambos se olharam, não quebrando a ligação. Ele parecia enxergar através dela, dentro dela. Iguais se conheciam e, na maioria das vezes, abraçavam uns aos outros. Presos e condenados.
Corações partidos costumavam se completar. Mesmo que ela fosse apenas uma garota e ele apenas um cavalo.
― Eu quero treiná-lo ― ela anunciou.
O cavalariço e Anne a olharam, incrédulos.
― O quê? ― ambos questionaram em uníssono.
― Anne, por favor, traga minha roupa de montaria.
― Alteza, você ouviu o que este senhor disse. É muito perigoso. Não posso permitir que…
― Anne ― ela interrompeu. ― Sei o que estou fazendo. Por favor, apenas faça o que pedi.
Uma vez determinada, nada poderia pará-la. Naquela região imensa, ela não queria ficar sozinha, precisava de um parceiro fiel. E ela tinha acabado de encontrar um.
― Alteza, este cavalo é selvagem. Irracional ― insistiu o cavalariço. ― Ele só tem… raiva dentro dele.
― É exatamente por isso que eu o quero ― Adelaide tirou os próprios saltos, ficando descalça no chão de areia. ― Quem sente algo, sente alguma coisa. Por isso gostei dele. Já é muito mais do que muita gente que conheço.
Adelaide havia aprendido com o passar dos anos que ― em meio a tantos palhaços de máscara que viviam por momentos incolores ― a raiva era o sentimento mais genuíno que alguém poderia se dar a liberdade de sentir. Ela sabia que aquele sentimento era a única coisa restante que a tornava humana. Por isso Adelaide a respeitava, dia e noite, todos os dias. A raiva a fez sobreviver, a fez se alimentar, a fez ter vontade de acordar.
Vários momentos depois, Anne voltou com sua roupa de montaria. Devidamente vestida, Adelaide esperou que trouxessem Abaddon para o cercado. Anne parecia prestes a entrar em ebulição, beijando o crucifixo no pescoço. Foram necessários dois homens para guiar o animal até ali, que se recusava a ser puxado.
― Deixem-no ― ela mandou quando o cavalo se encontrou na proteção dos cercados.
Hesitantemente, fizeram o que a herdeira mandou. Então eles estavam ali, de frente um para o outro. Adelaide não sabia o que fazer, só o que sentir. Ela colocou as luvas de couro e deu vários passos em frente. Com aquela proximidade, Abaddon ficou agitado, parecendo entender o desaforo.
― Alteza, por favor, peço que repense…
― Calada ― mandou Adelaide.
Ela sentiu que qualquer movimento brusco ou voz indevida poderia quebrar a conexão frágil e recém-formada estabelecida no estábulo. Abaddon trotou no próprio perímetro, agoniado para atacar, analisando o desafio em forma de humano que ousava arriscar uma chance. Idiotice, aquilo era certamente uma idiotice. Mas Adelaide não se importava o bastante com sua vida para parar, o medo nunca a corroeria. Quem tinha medo, era porque não desejava perder algo. E… bom, ela não tinha nada.
Abaddon resfolegou, suas orelhas para trás, revelando irritação agressiva. Os enormes olhos dele estavam cerrados, as narinas dilatadas e dentes expostos. Ele iniciou uma batida excessiva em um dos cascos, levantando frações de terra pelo ar. Adelaide respirou profundamente, não estagnando os passos. Quando o cavalo percebeu que ela não pararia, iniciou uma corrida na direção dela. Anne gritou, os cavalariços ficaram agitados, abrindo o cercado e correndo na direção da herdeira. Ela silenciou o mundo, abafando qualquer sentido forasteiro. Concentrou os olhos naquelas grandes órbitas infinitas. Grãos de areia voavam conforme a velocidade do cavalo aumentava, indo em sua direção, prestes a atingi-la.
O cavalo se aproximou. Ela continuou a andar. Nada estava ao favor dela. As batidas incessantes de seu coração igualavam-se às patadas do animal, estremecendo seus ossos e sua alma. Uma chance… ela tinha uma chance. E a idealização ilusória de que adestraria aquela criatura indomável. Abaddon não parou e nem pararia. Um certo choque de horror a percorreu segundos antes de, inevitavelmente, o cavalo parar.
Bem na frente dela. O rosto dele estava a centímetros de distância. Ela estava ofegante, condensando sua respiração as bufadas rítmicas do cavalo. Aqueles dois buracos negros cheios de vida a preencheram, em um último aviso. Adelaide não se moveu, não fez nada a não ser demonstrar todo seu respeito silencioso. Ela levantou uma das mãos na direção dos cavalariços, os mandando permanecerem em seus lugares. A herdeira ergueu levemente o queixo, ousando levar a outra mão na direção dele.
O cavalo relinchou, movimentando a cabeça. Adelaide hesitou, tomando todo o tempo necessário. Talvez ela não conseguisse montá-lo naquele dia, mas ao menos… ela tentou aproximar a mão de novo e, desta vez, Abaddon nada fez. Encostou no centro do rosto dele, firmando aquela parceria. A garota exibiu um sorriso leve, acariciando aquele rosto de pelos. No fim das contas, eles eram mesmo iguais. Desafiando a devoção de todos ao redor, e na primeira oportunidade, afastando qualquer um que pretendesse ficar. Só para no fim, descobrir que a única coisa que precisava desesperadamente, era alguém que insistisse em seu coração desconfiado.
― Oi… ― ela sussurrou. ― Eu sou Adelaide.
Abaddon piscou, balançando a cabeça. Segundos depois, ele se afastou, finalizando o único ponto de confiança daquele dia.
Anne parecia prestes a desmaiar. Os tratadores a encararam, abismados.
― Em todos esses anos, ninguém conseguiu se aproximar dele assim ― disse um dos tratadores, passando a mão pelos cabelos. ― O que a senhorita fez?
Ela deu de ombros, observando Abaddon comendo grama.
― Eu só não fugi.
Oh, pobre criatura;
Obrigando todos a fugirem;
Cobiçando alguém para insistir.
Sua mente tem cicatrizes;
E eu tenho um milhão de vigarices.
Posso tentar trapacear para te conquistar;
Você ainda ficaria, se soubesse o que fiz para te almejar
O ódio de Adelaide era patológico. Ela tinha uma lista com nomes em que ela priorizava toda essa energia. Poderia ser coerente apontar que ter aversão a própria mãe, fazia parte da personalidade fria e maníaca da garota.
Mas era mentira. Porque ela amava o pai, amava seu irmão e já amara muitas pessoas antes deles. E acima de tudo, amara alguém que era digno de toda sua confiança e devoção. O nome desse alguém, era Dolores. Elas se conheceram quando Adelaide ainda tinha dez anos de idade, em um dos outonos que ela foi mandada para a casa da avó no interior. Antes de Dolores, aqueles dias úmidos e alaranjados eram preenchidos por tardes entediantes e sabáticas. E quando uma garotinha sem os dentes da frente, de cabelos ruivos avermelhados descabelados, descalça e completamente suja dos pés à cabeça, apareceu na porta dos fundos da cabana de sua avó, Adelaide ficara mais que intrigada.
― Quem é ela? ― perguntara Adelaide, usando um de seus vestidos classudos cheios de laços.
― O nome dela é Dolores ― respondera sua avó enquanto preparava uma torta de abóbora. ― Ela não tem família. Vive por aí como uma selvagem faminta.
Mesmo naquela época, Adelaide sentira o peso daquela frase ressoar em seu subconsciente. A garota nunca estava sozinha, sempre rodeada de servos e pessoas uniformizadas. Ela achou intrigante, curioso… Como era ser sozinha como aquela garotinha?
― E por que ela veio aqui hoje? ― Adelaide indagou.
― Hoje é sexta-feira, dia da colheita semanal. Ela me traz frutas, e eu lhe dou uma cesta com água e bastante comida.
Adelaide dormira pensando nela, olhando a escuridão pela janela de seu quarto e imaginando por onde Dolores estaria, apenas a luz de uma lamparina iluminando seus sonhos. Por acaso ela passava suas noites correndo entre os lobos e dormindo em cavernas? Será que ela escalava árvores e conseguia enxergar toda a cidade lá de cima? E por algum acaso, tinha vontade de ter uma amiga?
Quando a próxima sexta-feira chegou, Adelaide portou-se em frente a porta dos fundos e esperou. Dolores aparecera ali por volta das três horas, trazendo consigo uma caixa lotada de maçãs. A pequena herdeira hesitou, mordendo a própria língua. Na cabeça dela, havia muito o que queria dizer, mas quando chegou a hora, nada falara. Adelaide era uma típica observadora, analisava os figurantes que rodeavam seus dias e sabia bem como encaixar-se em meio a eles ― fora daquele jeito que a mãe a criara, para ser um reflexo dos que a bajulavam. Dito isso, Dolores não parecia ser uma garota que conversava sobre a moda outonal ou a economia esponence.
Dolores pertencia à qual espécie? Ela não usava sapatos, não trajava um vestido (pelo contrário, vestia uma calça masculina e camiseta encardida) e não tinha os cabelos penteados.
― Que laço é esse na sua cabeça? ― Foram as primeiras palavras que Dolores dirigiu à ela. Não havia classe ou suavidade em sua fala, e aquilo a assustou por um momento. Adelaide estava acostumada com palavras amansadas e vozes contidas.
― Minha mãe que me deu.
― É horroroso.
Depois daquilo, Adelaide fora tomada por uma certeza febril: ela queria ser a melhor amiga de Dolores.
No presente, Adelaide alisava a ponta do indicador em seu cavalinho de cristal antigo e inanimado, mas eterno e simbólico. Já era noite, horário do recolhimento. Ela estava sentada em frente a penteadeira, ignorando seu reflexo apático. Havia jantado sozinha no salão, o que considerou uma pequena bênção dos céus por não ter a companhia de Andrew com ela. Uma hora atrás, viu vários homens do conselho de Vallentuna saindo da sala de reunião de Albatroz, a herdeira supôs que a ausência de Andrew tivesse algo a ver com isso.
A garota guardou seu pequeno cavalinho dentro da gaveta e pegou outra coisa: um frasco miúdo de perfume. Perfeito para esconder outro conteúdo. Ótimo para guardar veneno.
Mais tarde naquele mesmo dia, Adelaide explorava o jardim sozinha quando encontrou algo pela propriedade. Olho de Jasmim. Aquela planta já fora considerada uma praga nas civilizações mais antigas, visto o perigo contido em seus espinhos venenosos. Mas aquela não era a única parte perigosa da planta. Preparada da forma certa, as pétalas arroxeadas do Olho de Jasmim, poderiam ser letais. Algumas gotas… alguns meses… o indivíduo que a tomasse diariamente percorreria um caminho discreto e lento em direção à cova.
Adelaide ergueu o frasco diante do rosto, o líquido roxo claro refletindo no espelho. Como sempre, as servas deixavam uma jarra de água na cômoda ao lado da cama.
Andrew estava certo. Um deles precisaria ceder. Mas de que forma, exatamente?
Ela respirou fundo, apertando a mão contra o frasco de vidro. Não. Seu escorpião interno sabia quando atacar e ainda não era a hora.
Quando guardou o conteúdo dentro da gaveta, a porta abriu. Andrew virou o rosto para ela quando entrou no quarto, mas não disse nada. Ela se concentrou em tirar os brincos enquanto o homem adentrava no quarto, tirando o casaco.
― Fiquei sabendo da sua aventurinha hoje ― Andrew comentou, de costas para ela. ― Você poderia ter morrido.
Ela encarou as mãos por um momento. Havia marcas de luas minguantes em suas palmas, eternas em sua pele.
― Por quê? Queria tentar me impedir?
― Pelo contrário, peço apenas que me envie um convite da próxima vez que tentar se matar. Seria fascinante assistir ao seu declínio.
Pelo espelho, Adelaide o viu tirar a própria camiseta. Os ombros dele eram largos, as costas tinham músculos firmes e se mexiam conforme o movimento dos braços. Ela sentiu o rosto esquentando involuntariamente.
Um homem.
A garota se lembrou dos comentários minuciosos das damas da corte sobre ele: lindo como um sonho, ganancioso e possuidor de um gene invejável para qualquer mulher que desejasse herdeiros de alta perfeição visual. De fato, Andrew Vallentuna era dono de uma beleza inegável. Não que aquilo importasse para Adelaide.
Andrew virou-se e pegou-a o encarando. Se ela desviasse, seria pior. Quando olhou de frente, ela viu uma cicatriz rosada no canto do abdômen definido dele.
― Foi de propósito? ― ela perguntou, acenando levemente para a marca.
Ele olhou para a cicatriz e respirou profundamente.
― É uma história chata.
― Qualquer história que envolva sua vida em risco não me parece entediante.
Aquilo fez Andrew soltar uma respiração humorada. Ele abriu o guarda-roupa e procurou por uma peça de roupa.
― Você não é muito diferente dos soldados no campo de batalha, obcecados por sangue.
A frase dele paralisou a atenção dela. Adelaide virou-se no banco estofado da penteadeira para analisá-lo melhor. Ela pensou em Alexandre, seu irmão mais novo. Ele queria ser pianista, mas assim como aquela herdeira insensível, fora enviado em direção a um destino que não desejava.
Andrew, assim como seu irmão, na época, havia sido mandado ao Primeiro Batalhão para lutar nos escombros de Cantuc, um país em guerra contra os chineses há mais de vinte anos. Quando a situação se intensificou e mostrou sinais de uma vitória inimiga, as forças armadas de Cantuc enviaram mais soldados e apelaram para seus aliados de guerra ― entre eles, Grand Spoir. Com todo aquele apoio e mais um pouco, os chineses foram obrigados a desistir.
― Era muito ruim? ― ela perguntou, a voz enfraquecendo. ― Lá em Cantuc.
Andrew ficou em silêncio por um tempo, desamarrotando uma camiseta.
― Não era um lugar invejável de se estar.
― Foi onde conseguiu essa cicatriz? E esse tiro na sua lombar?
― Estas são apenas marcas. Não doem mais ― ele respondeu, fechando as portas do guarda-roupa e andando em direção ao banheiro. ― As cicatrizes mais dolorosas são aquelas que não se podem ver.
Ela refletiu sobre as palavras dele. Adelaide sabia daquilo mais do que ninguém.
― Você voltaria para um campo de batalha?
― Não ― respondeu. ― Não faz mais parte do meu mundo.
― E o que faria parte do mundo de um ex-soldado?
― Esposas psicopatas, talvez.
― É isso o que pensa de mim? ― A sombra de um sorriso brincou pelo semblante dela.
― É o que eu tenho certeza.
― Bom, e eu tenho certeza de que ser casado deve ser entediante para você. Mesmo que com uma mulher psicopata.
― O que quer dizer?
― Não ter ninguém para poder atirar… parece revoltante.
Bruscamente, Andrew atravessou o quarto e apoiou o corpo na penteadeira, as mãos dele apoiadas ao redor do corpo de Adelaide. O cômodo inteiro pareceu tremer.
― Se disser uma coisa dessas de novo, juro que farei você se arrepender ― ele avisou. O rosto dele estava a centímetros de encostar no dela. Havia uma fúria imbatível naqueles olhos que estavam fixos nela, na forma como ele respirava pesadamente.
― Se não o quê? ― Adelaide provocou, erguendo suavemente o canto dos lábios. ― Vai atirar em mim? ― Com os dedos, ela performou uma arma na mão e pressionou na testa dele. ― Pow! Pow! Pow!
Andrew se afastou na hora, piscando várias vezes.
― Você me deixa enojado ― ele acusou.
― Ora, obrigada.
― Sabe de uma coisa, Adelaide? Pensei que meu pior pesadelo era voltar para um campo de guerra. Mas descobri que, na verdade, é ser casado com você. De qualquer um, na verdade.
― Mais alguma coisa?
― Um dia, você ficará tão sozinha neste mundo que se perguntará o que diabos ainda está fazendo aqui se não há ninguém que deseje sua presença ― ele vestiu a camiseta que havia jogado na cama e se dirigiu à porta. ― Fique com o quarto, eu não ligo.
A porta bateu fortemente. Ela tinha certeza de que toda a mansão havia acordado.
Andrew estava certo sobre o que disse. O que ele não sabia, é que ela já se sentia daquele jeito.
e chegamos ao fim de mais um capítulo! muuuuuuito obrigada para quem leu até aqui, e espero que estejam gostando do rumo que o livro está tomando até agora. sei que ainda estamos só no capítulo 4, mas pra mim parece que já é o 20 kkkkk. lembrando que toda QUINTA e DOMINGO saem capítulos novos!
― com muito, muito amor, heleninha!
Estou amando!! Sua escrita é maravilhosa e flui tão bem!! Demorei a ler porque tava com vários textos acumulados, mas hoje descidi ler e devorei todos os capítulos kkkk. Amei muito não pare de escrever! 🤍💕
devorei completamente esses capítulos, sua escrita é linda! 🫶🏼🤍