TIRANDO O SOM DE TALHERES tilintando e os passos dos serventes pelo piso de mármore, a sala de jantar estava em silêncio. Na ponta central da mesa, Astride apenas bebia vinho e encarava o nada. Ao lado dela, estava Adelaide, fingindo gostar do pato insosso em seu prato.
Nas cadeiras seguintes, estavam Liliane Bonnavick, irmã mais nova de Astride; Fred Bonnavick, marido de Liliane; e Lauren Bonnavick, filha única de Liliane. À frente de Adelaide, jantavam Andrew e sua família ― O duque Miguel Vallentuna e a duquesa Esmeralda Vallentuna.
― A festa de casamento ficou linda ― comentou Liliane. ― Mas sinto que faltou alguma coisa nela.
― Eu achei adorável ― falou Esmeralda. ― Mas pode ter faltado um pingo de personalidade. Contratar um organizador de festas nem sempre é eficaz.
Adelaide coçou a garganta.
― Foi eu quem organizei ― ela disse.
Lauren escondeu sua risada com uma tosse.
― Oh… quer dizer ― As bochechas de Esmeralda coraram. ― Foi uma decoração bem requintada. Eu gostei.
Adelaide quis revirar os olhos. Baba-ovos medíocres.
― Nesse caso, seria bom Adelaide aprimorar seus conhecimentos sobre organização de eventos. Uma boa rainha precisa saber preparar uma ótima festa ― proferiu Liliane. ― Talvez tenham faltado alguns dançarinos para entretenimento.
― É uma celebração, Liliane, não um circo ― cortou Astride, finalmente desfocando os olhos. ― Concentre-se no papel de sua filha na Casa Real.
― Claro ― disse a tia de Adelaide, perdendo a postura confiante e ajeitando a bainha do vestido ― Farei isso.
A herdeira engoliu em seco. Ela não sabia dizer se a mãe estava a defendendo ou só mantendo o personagem de matriarca da família. De qualquer forma, era bom ver as outras cobras da família se esquivando.
― Li seu último livro, Lauren, e devo dizer… fazia tempo que eu não lia algo tão melodramático ― revelou Miguel.
Lauren bateu um guardanapo nos lábios e depois respondeu:
― Isso seria um elogio, senhor?
― Bom, depende do que deseja encontrar em uma leitura. Sou mais adepto aos livros de guerra e história. Mas não tem problema, é de se esperar que domine a arte do drama. Tenho certeza de que é algo a ver com seus instintos naturais femininos.
― O que você está querendo dizer? ― foi Adelaide quem questionou.
― Bem, é como dizem, os homens ficam com o trabalho pesado e as mulheres desfloram em pedaços de papéis.
Ele e Fred riram da piada. Lauren olhou de esguelha para Adelaide, enquanto a herdeira apertava os punhos debaixo da mesa. Por incrível que pareça, Andrew não riu do comentário.
― E então, hoje é noite de lua cheia ― disse Liliane. ― Sabe o que dizem sobre o que fazer quando a lua está completa.
― O que dizem? ― perguntou Fred, cortando seu bife.
― Ora, é noite da fertilidade!
Adelaide se engasgou com o vinho e Andrew tossiu com a comida. A última coisa de que ela precisava naquela noite, era conversar sobre sua vida sexual.
― Apesar de não compadecer com essas ideologias astrológicas, a verdade é que esse tópico é de total interesse desta união ― disse Astride. ― É tradição da família conceber herdeiros na noite de núpcias.
― Mas que rápido! ― murmurou Andrew, bebendo um gole de água.
― Uma hora ou outra terá que acontecer ― rebateu Miguel, falando com a boca cheia. ― Eles são dois jovens dormindo na mesma cama, ninguém precisará ordenar que façam alguma coisa.
Adelaide engoliu em seco e, pela primeira vez, sentiu-se verdadeiramente temerosa com aquele casamento. E mesmo que ela não se importasse com os sentimentos de Andrew, também viu amedrontamento nos olhos dele ― estavam arregalados e bem fixos no seu prato.
Eles teriam que se tocar.
E ela precisaria deixar.
Aquelas mãos… mãos que ela nunca desejou, nunca almejou, violariam o corpo dela. Um arrepio correu por seu corpo ao visualizar uma cena de Andrew em cima dela… se movimentando, se impulsionando com seu peso até que ela ficasse sem ar.
― E como eu estava falando, esta noite é mais que perfeita para fazer bebês ― afirmou Liliane. ― O casamento de vocês aconteceu na data ideal.
― O filho deles será lindo! ― exclamou Esmeralda.
A conversa continuou por um longo tempo e Adelaide precisou fingir normalidade ao ouvir cada barbaridade íntima e profana. Quais posições eram mais favoráveis… quantas vezes por dia eram o bastante para praticar… Tudo o que ela queria era sair dali e vomitar.
Após o fim da festa e do jantar, todos os convidados, incluindo ambas as famílias dos recém-casados, deixaram Albatroz e partiram de volta às suas terras de nascença. No caso dos Bonnavick, para Viannas. Ela não conseguiu evitar o suspiro de alívio ao vê-los partir.
Com sua mãe e tia distantes, eram menos dois demônios para engolir.
Contudo, estava na hora de Adelaide se ater à outras preocupações. Ela estava em seu aposento ― aposento deles! ―, olhando o vilarejo na varanda, desejando estar na pele de qualquer camponês dali. Ela mexia nas luvas, colocando e retirando o tecido. A qualquer momento, Andrew chegaria. E então, logo ela veria quem ele era de verdade. A noite de núpcias. Era uma hora tentadora para se atirar da janela. Ela viu o mar escuro, agitado ao longe. A garota queria se juntar a ele.
Ela engoliu em seco, o coração batendo em galopadas preocupantes. Andrew teria que tocá-la, ele teria que vê-la nua. E se ela caísse na cama e fingisse estar morta de bêbada? Não, não adiantaria. Afinal, não importava quantas saídas ela encontrasse para aquela noite, quantas outras noites Adelaide conseguiria acobertar? No fundo de sua mente, frases extensas e formosas ganharam vida.
Se é isso o que você quer, tem o direito de ter; Mesmo que não importe o que eu clame enquanto me abater; Meu corpo é como uma rua enlameada; Você pisa nele e deixa suas marcas permeadas; Se eu fugir enquanto você dorme, Você virá atrás de mim com seus acordes?
Sua mãe poderia ter aguentado aquilo. Será que ela aguentaria?
Por toda sua vida, ela teve a liberdade de se defender de Andrew todas as vezes que ele a atacava. Mas finalmente havia chegado o dia em que atacar não era uma opção. A porta do quarto abriu, sem delongas. Adelaide prendeu a respiração.
Passos pesados entraram no quarto. Uma figura grande invadiu o cenário mal-iluminado, cambaleante. Adelaide não disse nada quando o viu simplesmente cair de cara na cama, uma garrafa de vinho caída no chão. A garota se aproximou, hesitante, com medo de acordá-lo. Um leve empurrão no braço dele concluiu suas suspeitas, seguido de um ronco profundo. Bêbado. Completamente bêbado.
Um medo parcial a deixou. De frente para ele, o vendo naquele estado fraco, Adelaide pensou em pegar um daqueles travesseiros para sufocá-lo até a morte. Ou talvez… pegar aquela garrafa de vinho e atirá-la bem na cabeça dele. Adelaide poderia gargalhar alto em meio a todo o sangue espalhado pelo quarto. Depois inventaria alguma desculpa, diria que ele bebeu demais, bateu a cabeça e morreu instantaneamente.
Ela pegou uma das almofadas. Era aquilo… simples, rápido, indolor. A garota virou o corpo pesado dele no colchão, escondendo seu rosto no travesseiro. Adelaide montou nele, buscando uma posição melhor. Ela respirou fundo, forçando as mãos com mais brutalidade. Só mais um pouco… só mais um pouco.
Um punho fechado bateu na porta.
Adelaide se sobressaiu, saindo de cima de Andrew e atirando o travesseiro para longe. Ela estava ofegante, as mãos trêmulas. As batidas na porta persistiram, era Edmundo.
― Perdão por incomodá-la a esta hora, alteza ― disse o mordomo.
― Sem problemas ― Ela torceu para que suas palavras atrapalhadas não a entregassem. ― Aconteceu alguma coisa?
― Recebi uma mensagem do Comando Militar. Eles avisaram que Alexandre já se encontra em terras esponences.
― Ah… claro.
Alexandre era seu irmão mais novo, de longe, o membro familiar mais próximo que ela tinha. Ele havia sido mandado pelo exército para Berlim. Era uma mensagem reconfortante saber que o caçula da família estava em casa a salvo. Apesar da notícia, as palavras de Edmundo não foram capazes de arrancá-la de seu estado de tensão.
― Isso é ótimo. É uma notícia ótima, ótima mesmo. Amanhã ligarei para ele.
― Faça isso, alteza. Enfim, boa noite ― Antes de ir, Edmundo parou na porta. ― Se me permite perguntar, tudo bem com a senhora, alteza?
― Sim ― A resposta dela saiu rápida demais. ― Só estou… cansada. Foi um longo dia.
― Tudo bem. Caso necessite de algo, não hesite em me chamar.
Quando a porta fechou, Adelaide despencou no chão e fechou os olhos com força. Sua mente não a liberou para um momento de plenitude. Ela levantou do chão e analisou Andrew. O movimento profundo de seu peito era prova o bastante de que a garota nem chegou perto de matá-lo.
Ela poderia continuar, mas… algo infelizmente já havia a arrancado de suas ilusões assassinas. Agora, Adelaide se aproximava do corpo exaurido de Andrew e o estudava com mais afinco. Havia uma pequena cicatriz no canto de seu queixo, quase imperceptível. Ele parecia em paz, calmo como um dente-de-leão. Nada parecido com a rosa cheia de espinhos que a herdeira conhecia. Com o que será que ele sonhava? Será que ele também poderia estar se sentindo tão sufocado quanto ela? Será que… será que ele já pensou em matá-la também?
Desfocando os olhos um pouquinho, era possível enxergar a criança que um dia ele fora. Adelaide nem sempre o odiou. Houve um tempo que os dois poderiam até ter se tornado amigos.
Ela não conseguiria matá-lo, não mais naquela noite, ao menos.
Por motivos óbvios, Adelaide não dormiu no mesmo quarto que Andrew. Quando se passou da meia-noite e já era garantido que todos os funcionários da casa estavam repousando em seus aposentos, ela esgueirou-se pelos corredores e entrou num quarto de visita, dormindo com a luz do abajur ligada bem ao seu lado ― como sempre fazia. De manhã bem cedo, ao voltar para o cômodo anterior, Andrew não estava mais lá.
Não havia qualquer rastro dele, a não ser um aroma suave de bebida alcoólica.
Depois de um longo banho na banheira, Anne a ajudou a se vestir adequadamente. Camiseta de botões preta, saia longa da mesma cor e saltos baixos ― Desde seus 16 anos de idade, quando o pai dela morrera (rei Monic Bonnavick), sua avó paterna ordenara que todos os membros da realeza vestissem apenas cores escuras, para representar um pesar infinito. Os cabelos estavam soltos, correndo como crinas lisas de cavalo. O broche de cavalo que sua mãe lhe dera estava preso no canto da cabeça. Ela parecia com sua mãe. Adelaide tinha apenas 21 anos e desejava morrer todos os dias. No futuro, ela possivelmente se tornaria como a atual rainha: amarga, podre e completamente submissa por dentro.
― Anne ― chamou Adelaide, encarando o próprio rosto no espelho enquanto a dama de companhia passava o pente por seus cabelos. ― Você é feliz?
― Eu tenho tudo do que preciso.
― Do que você precisa?
― Dinheiro ― respondeu Anne. ― Meus irmãos estão recebendo um ótimo auxílio familiar. Esse trabalho tem muitos benefícios.
― Mas você é feliz com isso? ― ela insistiu, virando-se para Anne. ― Você… gosta da sua vida?
Anne entendeu que aquelas perguntas pareciam mais que simples curiosidade. A garota parou de pentear os cabelos da herdeira e demorou um pouco para responder. Adelaide avaliou a garota por inteiro ― cachos castanho-claros volumosos e boca rechonchuda. Elas tinham a mesma idade, e, certamente, Anne possuía sonhos grandiosos. A serva não era herdeira, não era princesa, e não possuía sangue real. Aos olhos de Adelaide, um verdadeiro paraíso. Entretanto, Anne estava ali, penteando o cabelo de outra pessoa.
― Acredito que a oscilação faz parte da vida. Às vezes, você pode detestá-la, mas haverá dias em que a apreciará. Tudo é uma questão de ótica.
― Você acha isso mesmo? ― Adelaide esperava que Anne estivesse certa. Se fosse aquilo mesmo, então havia uma luz no fim do túnel para ela. Afinal, a garota já fora um dia muito feliz. Poderia ser novamente. ― E se toda sua felicidade já estiver definida?
Anne riu, como se ela fosse ingênua.
― Ninguém sabe, não é? Mas eu acho que… se há algo que não está nos agradando, precisamos fazer de tudo para deixar nossa vida um pouco mais cômoda. Minha avó costumava dizer que a felicidade também pode ser encontrada.
Encontrada? A conversa entre ambas pipocou na cabeça de Adelaide por um bom tempo, e persistiu conforme ela terminava de se arrumar. Em seguida, foi guiada até o pátio atrás da casa, onde uma mesa bem ornamentada com culinária matinal a aguardava e… é claro, Andrew. Se a felicidade era algo a ser encontrado, então, ela supôs, o ódio era tudo uma questão de sabotagem universal. Parecia óbvio quem poderia ser o carma dela.
― Bom dia ― desejou Andrew, os olhos num jornal, uma das pernas repousada acima da outra. Uma presunção natural o rodeava, e ele nem mesmo teve o deleite de levantar o rosto quando ela se sentou à sua frente. Cheirava bem, algum perfume masculino caro sem personalidade; calça de mocassim clara e camiseta polo. Até a forma como o homem se vestia soava sem qualquer complexo de toque pessoal. Artificial dos pés à cabeça. ― Não a vi hoje de manhã. Por um momento, pensei que tivesse fugido ― Ele dizia aquelas palavras com uma casualidade arrogante.
― Me surpreende muito que você tenha tido capacidade para pensar em alguma coisa ― retrucou Adelaide, agradecendo com um gesto de cabeça um criado que a serviu de iogurte com amêndoas. ― O senhor pareceu um tanto inapto ontem à noite.
― Ora, o que é isso? Senhor? ― ele finalmente levou os olhos na direção dela, fechando o jornal. ― Por acaso o bom senso casamenteiro a fez criar bons modos? Para onde foi toda aquela bravura petulante? Ainda ontem você ameaçou me matar.
― Não seria muito coerente manter minhas atitudes condizentes à minha ameaça. Caso contrário, se algum acidente lhe acontecer um dia, será muito fácil descobrir a responsável.
― Olha só que legal. Não faz nem uma semana que estamos casados e é a segunda vez que ameaça me matar.
Se ele soubesse que ela não apenas ameaçou.
― Acredite, tem muito mais por vir. Ainda temos uma vida inteira.
― Não vejo problemas nisso, sei como agir num capo de batalha. E apesar de eu não me importar em insistir neste ódio recíproco entre nós, eu não brinco em serviço. É por isso que estamos aqui, certo? Para cumprirmos com nossos deveres.
― Soa mais como um castigo para mim.
― Touché ― ele deu de ombros, indiferente. ― Acontece, Adelaide, que alguma hora você terá que parar de me evitar. O que inclui parar de me olhar de cima a baixo com seu veneno a cada vez que eu chegar perto de você.
― Coitadinho, machuquei o seu ego?
― Chame isso do que quiser. O que estou tentando dizer, é que até agora tudo isso foi bastante divertido, mas pode se tornar bem desagradável.
As mãos dela agarraram o tecido de sua saia com força embaixo da mesa. Por sorte, desde muito jovem, ela fora ensinada a praticar a arte da discrição. O que significava que ela sabia disfarçar muito bem quando queria se tornar o inferno na vida de alguém.
― O que todo esse discurso significa, sr. Vallentuna?
― Para duas pessoas que estão presas a uma vida inteira juntos, seria bom haver certas cooperações.
― Cooperações? ― ela apoiou o queixo no punho fechado e cerrou os olhos.
― Se você estiver disposta a ceder, também estarei ― ele esclareceu, olhando bem para o rosto dela. Por mais irônico que parecesse, Adelaide enxergou certo apelo escondido nos olhos dele. ― Se confiar em mim, também poderei confiar em você.
Andrew estendeu uma das mãos para ela, esperando um acordo. Adelaide não era alguém que “cedia”. Especialmente nos últimos tempos. Ela havia sacrificado muito. Não perderia mais um pingo de sua integridade se entregando às palavras vazias.
― É sempre fácil assim? ― ela provocou, cruzando os braços e apoiando as costas na cadeira. ― Apenas exibir um sorriso galanteador, ameigar seus olhinhos falsos e soltar palavras medíocres? Deixe-me contar uma coisa: não sou uma dessas marionetes facilmente manipuláveis que você conquista no congresso.
― Quem me dera se fosse ― retrucou Andrew. ― Minha vida seria tão mais fácil.
― Você poderia desistir ― Na casa real, o único com poder para abdicar de um casamento, é a parte masculina.
― Poderia mesmo. Mas você acha que eu sou alguém que desiste? Caso o contrário, posso… ― ele tentou pegar a mão dela na mesa.
Adelaide recuou automaticamente, levantando-se tão rápido da cadeira, que a arrastou ruidosamente no chão.
― Não me toque ― ela mandou, as mãos erguidas em defesa.
O pátio ficou tenso. Ela percebeu os servos ao redor se remexendo, evitando encarar a cena a seguir.
― E como é que você espera que eu… ― Andrew pareceu fadado a explodir, mas rapidamente se recompôs ao mandar uma breve avaliação ao redor. ― Podem sair? Gostaria de ter uma conversa a sós com minha esposa.
Obedientemente, todos saíram do lugar. A palavra “minha” queimava ardentemente em seu consciente. Quando eles ficaram sozinhos, Andrew continuou, mais controlado desta vez:
― Nem mesmo permite que eu encoste na sua mão.
― Contanto que não me toque, viveremos muito bem.
― Você é minha esposa, deveria aceitar que…
― Eu não sou sua ― A voz dela tremeu. ― Somos apenas nomes assinados num pedaço de papel. Mas eu não sou sua. Nunca serei, fui clara?
Poderia ser ilusão de sua raiva, mas Andrew pareceu ter estremecido por um leve resquício de segundo. Se aconteceu ou não, ela jamais saberia.
― Tudo bem, sem toques. Você também não é exatamente o padrão de beleza mais agradável a meu ver…
― Que notícia melancólica!
―… mas sabe o que essa aliança em seu dedo significa? Significa que pessoas trabalharam duro por esta união. Significa que há um reino rogando por nossa imagem. Pode me odiar o quanto quiser, Adelaide, não me importo. Mas alguma hora, isso terá de acontecer ― Quando ele disse a última parte, fez um gesto de dedo entre os dois. ― E você sabe o que quero dizer.
Ela engoliu uma respiração pesada, tentando não nutrir aquelas palavras. Entretanto, Andrew estava certo. Em cada palavra. Ceder. Aparentemente, o livre arbítrio nunca fora mais que um mito.
― Eu sei ― ela sussurrou, fixando a visão na mesa por tanto tempo, que lágrimas nasceram de seus olhos secos. ― Mas ainda não estou pronta.
Aquelas foram as palavras mais sinceras que ela já havia dito a ele, foi o lado mais vulnerável que permitiu escapar. Andrew a analisou por um longo tempo. Será que ele não enxergava que ela estava morrendo? Que ela estava ali, mas sua mente se afogava no oceano de seus próprios demônios? Como não podia ver que, atualmente e eternamente, ele apontava uma arma na direção da testa dela e a qualquer momento o gatilho dispararia?
Pior, não havia qualquer coisa que o impedisse para tal.
― Imagino que não ― foram as palavras dele. ― Acho que nem eu estou também, de certa forma. Então, serei aquele a dar o primeiro passo.
Adelaide ergueu o queixo.
― Eu tenho algumas exigências.
― Como quiser, princesa.
― Não dormiremos no mesmo quarto.
― Isso soará muito estranho para os serventes.
― Não tem problema. Passarei a noite em algum quarto de visita. De manhã bem cedo, volto para seu aposento.
― Certo.
― Você não vai tocar em mim ― Ela tinha noção de que aquele era um mandado temporário. ― A não ser que eu peça.
― Não se preocupe, ter você próxima a mim não é bem um anseio. Mais alguma coisa?
Ela negou com a cabeça, apertando os lábios.
― E você? O que deseja de mim? ― perguntou.
― Além de não ouvir sua voz? Hmmm… ― ele fingiu pensar e depois assentiu. ― Sim, tem algo sim.
― O que é?
― Quero um autógrafo.
Adelaide piscou.
― Um… um o quê? Um autógrafo? De quem?
― Da sua prima ― ele respondeu, dando de ombros. ― Gosto dos livros dela.
Ela abriu a boca e depois a fechou. Não sabia o que dizer. Então ele… ele lia os livros… Adelaide desejou gritar.
― Ah… entendi.
― É um pedido difícil?
― Não. É só que… ― Não era Lauren quem escrevia aqueles livros. ― Vai demorar um pouco para conseguir. Estamos longe de Viannas, mas posso fazer uma ligação.
― Está bem. E além do mais, eu quero ler o manuscrito do novo livro dela. Antes de ser editado.
― Isso já não é abuso?
― Talvez ― ele se levantou da cadeira. Antes de passar ao lado dela, falou: ― Não vai ser difícil para você.
Por alguma razão, aquelas palavras arrepiaram os pelos do corpo dela.
olá, queridas e queridos leitoresss!!! pulei alguns dias de postagem, admito. andei bastante ocupada com meu trabalho e acabei não tendo tempo de organizar minhas postagens aqui.
espero que ainda se lembrem dos capítulos anteriores. pra você que leu até aqui, obrigada! você não faz ideia do quanto isso significa pra mim. lembrando que toda QUINTA e DOMINGO tem capítulos novos hein!